26 de abril de 2024

Operação Oceano: plástico jogado na natureza prejudica a saúde e vai parar nos pulmões

Projeto de pesquisa tem tentado mudar a realidade e está transformando material em "concreto sustentável"

O oceano é o pulmão do Planeta, dele vem 70% do oxigênio que a gente respira. O mar absorve 50 vezes mais gás carbônico do que a capacidade da atmosfera de armazená-lo. Se não fosse isso, as temperaturas na Terra poderiam chegar a 170 graus. Só que esse filtro está cada vez mais em risco.

Imagina estar à beira-mar, contemplando a natureza, respirando o ar puro que o oceano nos devolve e enquanto isso pedaços invisíveis de plástico entrarem pelas vias aéreas e pararem no pulmão. É assustador, mas segundo apontam estudos feitos no Brasil e em outros países, é o que está acontecendo.

Oceanos: os pulmões do planeta - Foto: Vasni Soares/TV Pajuçara

Oceanos: os pulmões do planeta – Foto: Vasni Soares/TV Pajuçara

Estudos mostram que estamos respirando, de lixo, o equivalente a um cartão de crédito por semana. Na China, o país mais poluído do mundo, médicos coletaram plástico de dentro do coração de 15% dos pacientes. O médico cardiologista, José Leitão, faz um alerta para a situação preocupante.

“É preocupante porque a gente está se contaminando, correndo o risco de morrer, perdendo qualidade de vida, sem saber. A absorção pode ocorrer de forma gastrointestinal, ou seja, pela alimentação; através do pulmão, ou seja, pelo ar, e o que mais me preocupa que também pode ser pela pele, a depender do tamanho da partícula a absorção pode acontecer de forma epitelial. Essas partículas na corrente sanguínea se ligam aos glóbulos vermelhos, ou seja, células do sangue, fazendo com que aumente o risco de infarto, arritmias, risco de câncer e também de demência”, explica o médico.

“Essas substâncias plásticas vão liberando bifenóides, outras substâncias que são geralmente carcinogênicas e produzem alterações hormonais. Então uma mulher pode ter câncer de mama, endometriose, problemas no fígado, e o homem também. Além de problemas de ordem neurológica”, elenca Gabriel Le Campion, oceanógrafo.

A esperança para tentar colocar um freio na poluição está nas pesquisas, na ciência e na conscientização. Um projeto, que vem sendo desenvolvido há pouco mais de um ano, monitora a cadeia produtiva do plástico, as consequências e a convivência com ele. É o “Oceanos de Plástico”, do professor e engenheiro agrônomo, Jessé Marques Pavão.

“Eu vinha à praia e aos locais públicos e me deparava com as pessoas que não sabiam tratar os resíduos, não sabiam o que fazer com o plástico, principalmente os de uso único, como o copo de plástico. Isso me motivou ao ponto de tentar escrever um projeto que abarcasse tanto a parte de produção quanto o monitoramento”, conta Jessé.

Do que viu, o professor provocou alunos, que passaram a se esforçar na tentativa de dar um destino correto ao plástico.

“O que me choca é ver que um ecossistema tão rico quanto o oceano que está tão degradado. Eu não sou de Maceió, sou do Litoral Sul, de Coruripe. Então quando eu cheguei aqui a primeira coisa que me chamou atenção foi uma praia tão bonita e tão suja, tão cheia de plástico”, diz um dos alunos, Erivelto Silva Souza.

Alunos do proeto "Oceano de Plástico" recolhendo resíduos na praia - Foto: Reprodução/TV Pajuçara

Alunos do proeto “Oceano de Plástico” recolhendo resíduos na praia – Foto: Reprodução/TV Pajuçara

E os estudantes, os “guardiões do oceano”, estão dando um destino nobre ao plástico. O material que é recolhido é levado para laboratórios e separados, item por item. Depois, eles são triturados e aproveitados. Em outro laboratório, o plástico ganha outra função: é misturado à brita, água e cimento e transformado em cobogós, muito usados nas construções. É o “concreto sustentável”.

Jessé Marques Pavão explica riscos do plástico em nosso organismo - Foto: Reprodução/TVPajuçara

Jessé Marques Pavão explica o processo de transformação do plástico – Foto: Reprodução/TVPajuçara

Salvar o pulmão planetário é dever de todos nós. Conscientizar para preservar o ar que respiramos, as águas que geram renda e que trazem realizações para muitos jangadeiros, como o S. Francisco, de 74 anos, que há 55 trabalha no mar.

“Eu me sinto feliz em poder estar aqui nessas águas, isso aqui pra mim é médico, é luz, é prata, é ouro, é tudo. O que eu tenho, ele que está me dando e vai me dar até quando Ele quiser. Eu sou das águas, das águas eu vou ficar até quando o Pai quiser, quando ele me quiser – agora não, daqui mais uns 30 anos – se a vida continua, eu quero continuar, em nome de Deus, meu pai, minha mãe Iemanja. É o sagrado da luz do dia e nós estamos aqui para apreciar”, celebra o jangadeiro.

Assista abaixo ao quinto e último episódio da série “Operação Oceano”, e aos demais episódios da série clicando AQUI.

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