‘Nosso Mangue’: poluição e desmatamento colocam em risco vida marinha e sobrevivência dos manguezais
“Muita gente não queria deixar a lagoa para ir trabalhar de carteira assinada, mas hoje é ao contrário. O pessoal tá saindo da lagoa para procurar emprego em outro canto porque a lagoa não tá dando mais as condições que dava à gente há cinco, dez anos atrás”. A fala é da marisqueira Joseane dos Santos, que tira o sustenta de dentro da Lagoa Mundaú e acompanhou o “auge do sururu” no estado.
O problema é que no entorno da Lagoa existem vários esgotos que carregam o lixo para dentro da água. A correnteza leva tudo para o manguezal e a poluição coloca em risco a vida marinha e a sobrevivência do mangue. A Cooperativa Mundaú reúne voluntários e, toda quarta-feira, recolhe lixo dos manguezais no entorno da lagoa. A cada quarta, são cerca de 200 quilos de lixo recolhidos.
“A gente encontra muito papelão, isopor, garrafa, vidro… Até móveis, sofá, geladeira já encontramos. O mangue está bastante poluído”, relata a voluntária Elisama Pereira de Oliveira.
“A poluição é um fator extremamente prejudicial ao manguezal. Antigamente haviam lixões nos manguezais, esses lixões hoje já não existem mais. É um ambiente extremamente degradado o tempo todo. Com essa perda de manguezal a gente perde também todo o potencial ecológico, econômico, social e cultural que o manguezal proporciona”, enfatiza o biólogo Alexandre Oliveira.
Apesar da quantidade absurda de lixo que para no manguezal, esse não é o único problema. Como os mangues estão em áreas costeiras, a especulação imobiliária e o desmatamento são constantes, mesmo o mangue sendo uma área de proteção permanente. Suprimir a área para construções é crime ambiental!
Mesmo com as punições previstas em Lei, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) reconhece a dificuldade de conter as construções irregulares. Por isso, além da fiscalização, o órgão desenvolve trabalhos de educação ambiental, principalmente com as comunidades que ficam próximas aos manguezais.
Segundo o IMA, a conscientização é uma forma de manter as pessoas em alerta sobre os cuidados com o mangue e aumentar as denúncias sobre desmatamento.
“Inserir a comunidade nesses processos de replantio do manguezal, faz com que eles monitorem esse manguezal e a partir daí a gente forma pessoas que estão ali acompanhando e sabendo da importância disso. Então a educação ambiental é extremamente importante porque além de divulgar a importância do manguezal, ela vai fazer com que a comunidade se sinta participante, se aproprie desse processo e possa, futuramente, eles por si só, protegerem o manguezal”, diz Alex Nasário, gerente de Unidades de Conservação do IMA-AL.