Diego Alves revela segredos para pegar pênaltis: ‘É como uma guerra psicológica’

Cristiano Ronaldo se prepara para bater o pênalti, ajeita o corpo, corre e chuta no canto direito. A euforia pela chance de gol do Real Madrid logo se transforma em frustração. O português não é o único craque desta lista. O goleiro Diego Alves, do Valencia, coleciona vítimas desde que foi atuar na Espanha, em junho de 2007.

Pênalti, com o arqueiro de 29 anos e 1,88m de altura, não é sinônimo de bola da rede. Em 41 cobranças, 20 entraram em sua meta. São 19 defesas, uma bola no travessão e outra para fora. O aproveitamento é de 51,2%. A defesa na cobrança do melhor do mundo foi sua 16ª no Campeonato Espanhol, igualando o recorde de Andoni Zubizarreta. A diferença é que Diego Alves alcançou o feito em 37 pênaltis (42,2%), enquanto o espanhol necessitou de 102 cobranças (15,6%) para atingir o número.

Em entrevista exclusiva à Agência Estado, o goleiro, que tem em seu currículo, além de duas defesas em pênaltis de Cristiano Ronaldo, um de Messi, revela um pouco dos segredos para o bom desempenho.

Defender pênaltis é uma arte?

(Risos) Arte… difícil definir… É um momento incrível no futebol. Onze metros de distância. É pouco, né?! Não sei se é uma arte, mas é um desafio enorme. Ainda mais diante dos cobradores que venho enfrentando. Nesses últimos anos foram jogadores como Messi, Cristiano Ronaldo, Diego Costa… Caras especialistas em fazer gol.

Quais os segredos? Você analisa os batedores, faz uma leitura corporal nos segundos antes da cobrança?

Se eu contar tudo, deixa de ser segredo, mas você disse coisas que faço mesmo. Eu costumo estudar os batedores antes das rodadas, também tento analisar o movimento na corrida para a cobrança. Estar bem fisicamente é fundamental para ter explosão e fazer o corpo responder aos reflexos. E uma grande dose de intuição também vai bem. São decisões em frações de segundo, então tudo faz diferença.

Intimidar o batedor, com palavras, como fez com o Cristiano Ronaldo e outros, é uma arma eficiente?

Encaro o pênalti como uma guerra psicológica. Quem estiver melhor, ganha. Tenho as minhas artimanhas, você notou uma delas. Com alguns, converso; com outros, tento tirar a atenção quando me posiciono. Cada situação é uma postura diferente. Mas o que nunca posso deixar de lado é a minha concentração e o que devo fazer na hora do chute.

O que significa igualar o Zubizarreta?

É uma honra. Somos lembrados pelo que fazemos e pela postura que temos. É um recorde histórico, uma marca importante. Fico feliz também porque, normalmente, uma defesa de pênalti traz mais benefícios além de não levar o gol: o time costuma ficar mais confiante e motivado depois de um lance como esse.

Você sempre citou o Taffarel como ídolo. Extraiu alguma característica, já que ele se destacava nos pênaltis?

O Taffarel foi um goleiro completo. O pênalti era mais uma das qualidades dele. Ele sempre passava muita tranquilidade. Tanto para os companheiros quanto para os torcedores. Era a impressão que eu tinha. Quando você se mostra tranquilo, de certa forma acaba deixando o cobrador preocupado. Acho que o Taffarel tinha isso. Não parecia que ele estava diante de um pênalti. É uma postura que eu tento ter também.

Há algum pênalti especial? Aquele que defendeu do Kevin, do Porto, com uma performance acrobática, por exemplo? Do Messi, do Cristiano Ronaldo…

Esse do Kevin foi engraçado, porque eu defendi quase deitado já. Ele cavou (leve toque por baixo da bola) e eu saí para o lado, mas levantei a perna e defendi com a sola. Foi curioso mesmo. Toda defesa de pênalti é especial para mim. Difícil apontar uma. Os nomes que você citou, como Messi, Cristiano Ronaldo, representam muito, são especialistas em fazer gols. Esse ano peguei firme um pênalti do Siqueira, contra o Atlético de Madrid o que não é muito comum.

Você também se destaca longe das traves, na cobertura da defesa e na reposição. Hoje isso é fundamental? O Neuer comprovou isso na Copa do Mundo?

Pelo estilo de jogo que se pratica na Europa, é essencial. Inclusive foi o fundamento que mais precisei exercitar quando cheguei na Espanha. Aqui você até treina com os jogadores de linha, em campo reduzido, só com os pés, para ter a percepção e o controle da jogada sob pressão. Os técnicos pedem para os zagueiros usarem o goleiro durante a partida, não gostam de chutão. Então é preciso estar sempre bem preparado, bem treinado. Além disso, molham o campo em todos os jogos, a bola fica mais rápida, então você tem que estar pronto sempre.

Como goleiro, queria que você comentasse duas situações: os questionamentos da torcida do Real Madrid sobre o Casillas e o revezamento que o Barcelona faz com Ter Stegen e Bravo?

Sobre o Casillas, difícil falar sem viver o dia a dia dele. É um goleiro com uma história incrível no clube e na seleção da Espanha. Conquistou os principais títulos. O tempo proporciona esses questionamentos. Os torcedores viram o Iker em seus melhores momentos. Talvez a exigência seja para que ele repita essas atuações sempre, o que não é fácil. É impossível, aliás. Mas, reforço, difícil falar à distância. Acho que ele merece respeito. Sobre revezamento, eu vivi isso no Valencia. Lá foi um pouco diferente, porque havia revezamento de competições e até mesmo durante a Liga da Espanha, com blocos de jogos para cada goleiro. Não foi muito confortável.

O Valencia está ficando pequeno para você? Ou confia no renascimento do clube e na chance de títulos?

O Valencia tem uma estrutura ótima, uma torcida apaixonada. É um clube grande e que está começando a dar os passos para voltar a ocupar o seu lugar, tanto aqui na Espanha como no cenário internacional. Nosso grupo é o mais jovem da Liga da Espanha e estamos fazendo uma campanha muito boa. As perspectivas em relação às próximas temporadas são positivas. Tenho mais quatro anos de contrato. O clube acreditou em mim e estou tentando retribuir essa confiança da melhor maneira possível. Acredito que podemos conquistar títulos pela força do atual grupo e pelos investimentos que ainda podem ser feitos. Temos que fazer a nossa parte em campo para que os investidores tenham coragem de aportar grandes valores. As duas coisas caminham juntas.

Como recebeu a convocação para a Copa América?

Com muita alegria. Eu tive passagens pelas seleções de base, depois voltei a ter a honra de jogar pela principal. E a sensação é de como se fosse a primeira convocação sempre. Vejo a seleção como o ápice na carreira de qualquer atleta. Agora é trabalhar pelo título!

A disputa na seleção está aberta? O Jefferson está em vantagem?

Essa pergunta é muito difícil e acho que você deve fazer para o Dunga (risos). Eu não tenho como responder. Vou chegar bem para dar competitividade ao grupo nos treinamentos e ficar à disposição da comissão técnica.

Guarda mágoa do Felipão e Parreira? Você era titular com o Mano Menezes, mas ficou fora da Copa?

Não guardo mágoa de ninguém. A vida é feita de escolhas. No futebol não é diferente. Apareci na primeira lista do Felipão, logo que ele assumiu, depois não recebi mais chances. Eu me coloco no lugar da comissão técnica, são muitos jogadores de qualidade para poucas vagas. Infelizmente, fiquei de fora, mas faz parte. Segui trabalhando muito forte, me dedicando ao meu clube e voltei a receber oportunidade. Sempre vou buscar ter condições de disputar uma vaga na seleção, respeitando as decisões de quem convoca.

Você será o titular em 2018?

Nossa, tem muito tempo até lá… Primeiro tenho que ser titular pelo Valencia nas duas últimas rodadas da Liga da Espanha. O caminho até 2018 é muito longo. Estou pensando no presente.

Neymar será o melhor do mundo?

Sobre futuro, é mais fácil falar sobre os outros. Ele joga muito. Tem condições de ser o melhor do mundo, sim. Acredito que já esteja nesse nível. Está mostrando isso no Barcelona e na seleção brasileira.

 

Fonte: TNH1


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